Nataly Pessoa |
Conheçam
Nataly Pessoa, autista de 28 anos. Nataly estuda Direito e administra o blog
Espaço Autista. Sempre ativa no mundo virtual, bem como no real, Nataly também
administra a fanpage Espaço Autista e um
grupo que tem o mesmo nome. Além de administrar as páginas na Internet, é
membro da ABRAÇA. Vislumbrem como esta menina autista se tornou uma mulher
independente e forte. Veja um pouco através da visão de uma autista que não
desiste jamais.
Recebi
meu diagnóstico de Síndrome de Asperger aos 25 anos de idade, após dois anos de
tratamento com meu primeiro psiquiatra. Só demorou, porque a síndrome é mais
difícil de diagnosticar em meninas, quando o grau não é severo. Resolvi
procurar um psiquiatra, porque sempre me achei diferente das outras pessoas em
alguns aspectos, já em outros não.
flappings nas mãos, que
inclusive tenho até hoje, e por começar a falar com quase quatro anos de idade.
Fui
diagnosticada em abril de 2011. No início tudo era novo para mim, mas já
pressentia que tinha algo de estranho comigo.
Tive que trancar a faculdade, visto que não estava conseguindo me
interagir com os colegas da turma. Confesso que até sofria rejeições por parte
de alguns colegas, devido à ignorância. Foi um ano de conhecimentos e também
muito delicado, então, resolvi me cuidar mais e fazer terapias. Meus pais ficaram sentidos no inicio, pois
nunca imaginaram que pudessem ter uma filha autista, mas nunca me rejeitaram e
sempre estiveram presentes em tudo. Sempre foram, juntamente com meu irmão,
meus grandes amigos e, até hoje, eles são tudo para mim. Minha mãe é a amiga de
todas as horas. Sem ela, tudo seria muito mais difícil. Quando eu era pequena, ainda
morando no estado de São Paulo, fazia terapias com uma psicóloga. Na época,
anos 90, ela nem desconfiou do meu comportamento típico em alguns autistas,
como
Quando
recebi o diagnóstico, eu e meu noivo já estávamos juntos e, até hoje, ele está
sempre presente em todos os momentos, sejam estes tristes ou alegres e ele é o
amigo que me ouve e me conforta quando estou em crise. Quando fui diagnosticada,
ele me disse: “Não vai mudar em nada nossa convivência. Eu te amo do jeito que
você é e pela pessoa especial que você é.”.
Tê-los
ao meu lado faz toda a diferença, pois o apoio é importante para que eu
continue em minha jornada. Alguns parentes me apoiam diretamente, outros são
silenciosos e não sei se esse silêncio significa apoio ou rejeição. Porém, não
me importo com isso, o importante é ter gente que gosta de mim como sou ao meu
lado. Essas sim fazem a diferença. Com o apoio da minha família e com meu jeito
de ser, sempre frequentei a escola regular e nunca repeti de ano. Hoje, estou
cursando a faculdade.
Depois
que fui diagnosticada, muita coisa mudou. Confesso que mudou para melhor, pois
hoje
entendo quando passo pelos meus processos de crises e sei procurar como
sair desses momentos. Antes, muitos diziam que tudo era frescura e eu ficava
muito triste com isso. Diziam assim: “Ah! A Nataly tem aquele jeito dela!”. Eu
ia muito para hospitais, pois criava muitos sintomas que não existiam. Hoje
entendo que era uma forma de eu pedir ajuda e não sabia como me expressar, meus
pais sofreram muito comigo. Agora, não sei nem o que é entrar num hospital e tomo
medicações, quando necessário.
Uma
das minhas maiores conquistas no ano passado foi a de ter passado num concurso
público em Brasília e ter voltado para o meu curso de Direito, que tanto amo.
Depois de diagnosticada tudo começou a fluir, descobri que nós autistas temos
muitos talentos e somos muito determinados no que nos propomos a fazer. Na
faculdade, estou obtendo ótimo desempenho e minha convivência social melhorou
muito, devido aos benefícios da psicoterapia cognitiva comportamental. Estou
conseguindo fazer boas amizades. Outra conquista marcante foi com o meu projeto
através do meu blog, estou sendo muito abraçada por diversas pessoas pelo
Brasil e até mesmo fora.
Antes
do diagnóstico, me sentia um pouco fracassada, pois tudo o que começava a
fazer, como cursos e empregos, eu interrompia logo, pois não me adaptava. Sentia-me
uma impotente pelo fato de ter terminado o ensino médio em 2003, ver meus
amigos se formarem logo e eu não. Hoje vejo que tudo será no tempo certo e de
acordo com o meu processo de desenvolvimento.
Um
dos momentos mais tristes foi quando entrei num estado crítico de crise em 2009
e eu ainda não era diagnosticada. Tive que trancar um outro curso universitário
e comecei a ter vários sintomas psicossomáticos. Fiz vários exames clínicos e
vivia indo para hospitais. Fiquei durante dois meses sem sorrir e interrompi as
aulas de reforço que lecionava em casa. Até que descobri meu psiquiatra que me
salvou! Eu o chamo de anjo.
E um momento feliz, sem dúvida, foi a aprovação no concurso público em Brasília-DF. Foi engraçado e também muito emocionante, pois quando recebi a notícia da aprovação, estava numa aula da faculdade. Devido à minha enorme ansiedade, eu levei o meu notebook para sala de aula e ficava entrando na página da organizadora do concurso o tempo todo! Quando vi meu nome como “Aprovada”, olhei para a professora e disse quase gritando: “ Passeeeeei!!!” Ela ficou muito feliz e compartilhou a notícia com todos em sala. No mesmo instante assumi para a turma toda que eu era autista e fui muito aplaudida. Lembro-me das palavras da professora: “Você está sendo uma lição de vida para muitos de nós.”
Experiências
boas, como esta, e outras experiências com preconceito e discriminação foram as
minhas fontes de inspiração para lutar, criar e manter o blog. Já fui até
discriminada num hospital particular daqui de Natal-RN, pois a recepcionista
disse que autismo não era caso de preferencial, pois não é deficiência, depois
de mais de duas horas esperando para ser atendida.
Mas
as experiências ruins não me derrubaram e sou muito feliz. Amo ser uma autista
e sei que isso não é barreira para deixar de lutar pelos nossos objetivos. Acredito
ser de extrema importância saber sobre o autismo, principalmente os
profissionais da área da saúde e da educação. Fico muito triste em saber que
parte desses profissionais, não sabem praticamente nada da síndrome ou muitos
não têm o mínimo interesse de se informar a respeito.
Nataly Pessoa |