segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Raimundo Silva do Nascimento


Conheçam Raimundo Silva do Nascimento, 35 anos, e Rayron Moraes do Nascimento, autista de 06 anos. Neste ano de 2013, Rayron irá cursar o 1º ano e começará a ser alfabetizado. Para Raimundo, seu filho foi, e continua sendo, uma benção em suas vidas, pois é uma criança muito especial e querida por todos e, sem dúvida, foi uma criança muito desejada. Raimundo é autônomo e trabalha como Técnico de Informática. Sua esposa, Rejane Moraes dos Santos do Nascimento, tem 39 anos, é Técnica em Enfermagem e esteticista e trabalha em uma clínica particular. No dia 08 de janeiro, comemorarão 07 anos de casados e agora esperam a chegada de mais um filho.

Quando Rayron estava com 06 meses, teve uma crise convulsiva. Minha esposa logo percebeu e me contou o que aconteceu. A partir daquele momento, passamos a prestar mais atenção e a utilizar todos os recursos do plano de saúde que fizemos para ele desde que nasceu. Conforme ele foi crescendo, passamos a desconfiar de autismo, depois da preocupação da pediatra, pois ele não se comunicava de forma verbal, só por gestos, e utilizava sua mãe e a mim como ferramentas. Então, sua pediatra o encaminhou para a fonoaudióloga e pediu para fazermos um Eletroencefalograma e vários outros exames. Até hoje, ele tem trauma do nitrato de ostra.
Desde esta época, passamos a pesquisar vários assuntos, não só sobre autismo. Neste meio tempo, a sua psicóloga, juntamente com as especialistas de sua equipe multidisciplinar, passou-me um parecer médico de que Rayron é autista. Na época, ele estava com 05 para 06 anos, mas, por sorte ou intervenção divina, ele estava em tratamento desde os 02 anos, mesmo sem termos nenhum diagnóstico. Em meados de julho, ele teve sua primeira consulta com uma psiquiatra-infantil, com experiência no diagnóstico e tratamento de autismo e todas as nossas preocupações e angústias em saber o que nosso filho tinha, foram sanadas. RAYRON É AUTISTA. Ele foi diagnosticado como tendo Transtorno Global do Desenvolvimento. Ela deu a ele o CID.10 F84 por ele ser muito novo e por ter começado cedo o tratamento, podendo assim, se desenvolver mais. Como ele também não atingiu cerca de 70% das exigências de outras síndromes, que caracterizam o AUTISMO, a psiquiatra deixou o diagnóstico entre aberto para, somente mais tarde, dar um diagnóstico conclusivo. Ela nos informou que, como nosso filho havia iniciado o tratamento bem cedo, suas habilidades e desenvolvimento social e pessoal tendem a melhorar de forma eficiente, como os de uma criança neurotípica, mas que pode vir a ter apenas algumas leves complicações causadas pelo Autismo.
Quando recebi o diagnóstico, foi sem dúvida, uma das piores noticias que eu já recebi, pois este é o tipo de notícia que você não gostaria de receber de um médico sobre seu filho. É um impacto violento, que você nem sabe de onde vem. Receber um diagnóstico de que meu filho era autista, não foi nada fácil. Isso me traz lembranças de quando fui um missionário (faço parte da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Igreja dos Mórmons), e servi no período de maio de 1999 a maio de 2001 em Goiânia - GO. No ano de 2000, no Triângulo Mineiro e em uma cidade chamada Patos de Minas. Quando eu estava realizando um serviço voluntário na APAE, tive meu primeiro contato com o autismo. Até então, nunca tinha ouvido falar sobre isso em minha vida! Um garotinho autista me pegou pela mão e começou a brincar de roda comigo e, no segundo seguinte, me deu uma tapa no rosto. Esta foi uma experiência que me mostrou como todas as vidas são importantes e valiosas para Deus.
Quando retornei da consulta médica, deixei meu filho na escola e fui direto para casa para dar a notícia para minha esposa. Depois que minha esposa foi dormir, eu fiquei sozinho na sala e comecei a chorar, mas a chorar muito! Um choro de tristeza, pois eu tinha um sentimento de perda e de total impotência diante da grande situação que nos encontrávamos. Foi certamente, o momento mais triste de toda a minha vida. Então, tomei a decisão mais acertada que poderia ter tomado: enxuguei as lágrimas que rolavam pelo meu rosto, engoli as que restavam dentro de mim e fui à busca de informações. Fiquei muito feliz com o que encontrei, mas também triste por estarmos atrasados em relação a outros países.
Depois veio a parte delicada, que foi o momento de falarmos com os familiares. Por parte de minha esposa, foi mais simples conversar com eles sobre esse assunto, pois eles sempre estavam próximos e nos apoiam muito. Já com a minha família, não foi tão simples quanto eu pensei que seria, principalmente a minha mãe, que não se convencia que seu neto fosse autista, mesmo Rayron estando diante dela apresentando todos os traços característicos do autismo. Ela só se deu conta mesmo, quando meu filho teve uma crise de choro repentina. Em relação aos amigos, estamos informando aos poucos, na medida do possível.
Temos uma boa dinâmica em casa para cuidarmos de nosso anjo, pois minha esposa e eu nos revezamos nas tarefas. As nossas mães têm nos ajudado bastante e a escola tem sido uma grande parceira, principalmente na parte disciplinar e educacional dele.
Hoje, somos mais unidos, atenciosos, nos importamos mais um com o outro, em todos os aspectos e o Rayron tem nos ajudado bastante nisso. Já passamos por várias dificuldades e adversidades na vida, mas ele tem nos ensinado com as suas grandes e pequenas conquistas a nos tornarmos mais humildes, tolerantes e pacientes nessa grande empreitada da vida. O fato de ele ter começado a terapia multidisciplinar desde os 02 anos e 10 meses, nos trouxe grandes avanços e resultados maravilhosos. Posso dizer que esta tenha sido nossa maior conquista com nosso anjo até hoje.
Fiquei um pouco frustrado no começo, com certeza, mas era pela falta de informações. Às vezes, ainda sinto um pequeno desânimo e me sinto um pouco impotente... Mas este pequeno desânimo só é causado porque sempre quero fazer mais, porém, minhas possibilidades não me permitem realizá-las.
Acredito que a causa do autismo seja genética e que a cura seja o AMOR INCONDICIONAL. Descobri esta cura, quando observei, no decorrer de minha pesquisa, de que Rayron podia se desenvolver normalmente e que ele estava relacionado a grandes homens da história que também eram autistas. Foi quando eu soube que ele poderia realizar todos os seus sonhos e atingir os seus objetivos na vida. Foi nessa época que descobri um grupo de pais de autistas aqui em Recife, até então, eu só conhecia a AMA. Também nos inspiramos em alguns filmes e livros. Assistimos aos filmes “Meu filho meu mundo” (Son-Rise), “Rain Man”, “Um amigo inesperado” e “Uma viagem inesperada”. Aproveitamos para ler aos livros “Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger” e “Mundo Singular”.
Depois que passamos por esta fase, começamos a perceber tudo de forma mais leve, a ponto de termos nossos momentos engraçados. Houve um dia, quando ainda estávamos no processo de adaptação, Rayron estava muito agitado sem motivo algum. De repente, ele me pediu para realizar uma tarefa no jogo do computador. Quando terminei minha parte, eu disse a ele:
- Agora é com você. Se vira!
Não deu outra. Ele rodou em torno de si. Kkkkkkkkkkkkkkkkk Ele, literalmente, “se virou”!
É nestas horas de alegria que percebemos suas expressões de satisfação e é nítido como ele tem se superado e, isso, não tem preço… O que minha esposa e eu podemos dizer às pessoas é que nunca desistam de seus filhos, independente do grau de autismo ou qualquer outro problema que tenham, eles são NOSSOS filhos e Deus os confiou a nós, então, nos esforcemos para sermos merecedores dessa confiança. Lembremos sempre que o melhor tratamento é aquele que se dá dentro das paredes de nosso próprio lar.
Rayron Moraes do Nascimento

Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.

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