Conheçam Raimundo Silva do
Nascimento, 35 anos, e Rayron Moraes do Nascimento, autista de 06 anos. Neste
ano de 2013, Rayron irá cursar o 1º ano e começará a ser alfabetizado. Para
Raimundo, seu filho foi, e continua sendo, uma benção em suas vidas, pois é uma
criança muito especial e querida por todos e, sem dúvida, foi uma criança muito
desejada. Raimundo é autônomo e trabalha como Técnico de Informática. Sua
esposa, Rejane Moraes dos Santos do Nascimento, tem 39 anos, é Técnica em
Enfermagem e esteticista e trabalha em uma clínica particular. No dia 08 de
janeiro, comemorarão 07 anos de casados e agora esperam a chegada de mais um
filho.
Quando Rayron estava com 06 meses, teve
uma crise convulsiva. Minha esposa logo percebeu e me contou o que aconteceu. A
partir daquele momento, passamos a prestar mais atenção e a utilizar todos os
recursos do plano de saúde que fizemos para ele desde que nasceu. Conforme ele
foi crescendo, passamos a desconfiar de autismo, depois da preocupação da
pediatra, pois ele não se comunicava de forma verbal, só por gestos, e
utilizava sua mãe e a mim como ferramentas. Então, sua pediatra o encaminhou
para a fonoaudióloga e pediu para fazermos um Eletroencefalograma e vários
outros exames. Até hoje, ele tem trauma do nitrato de ostra.
Desde esta época, passamos a pesquisar
vários assuntos, não só sobre autismo. Neste meio tempo, a sua psicóloga,
juntamente com as especialistas de sua equipe multidisciplinar, passou-me um
parecer médico de que Rayron é autista. Na época, ele estava com 05 para 06
anos, mas, por sorte ou intervenção divina, ele estava em tratamento desde os
02 anos, mesmo sem termos nenhum diagnóstico. Em meados de julho, ele teve sua
primeira consulta com uma psiquiatra-infantil, com experiência no diagnóstico e
tratamento de autismo e todas as nossas preocupações e angústias em saber o que
nosso filho tinha, foram sanadas. RAYRON É AUTISTA. Ele foi diagnosticado como
tendo Transtorno Global do Desenvolvimento. Ela
deu a ele o CID.10 F84 por ele ser muito novo e por ter começado cedo o
tratamento, podendo assim, se desenvolver mais. Como ele também não atingiu
cerca de 70% das exigências de outras síndromes, que caracterizam o AUTISMO, a
psiquiatra deixou o diagnóstico entre aberto para, somente mais tarde, dar um
diagnóstico conclusivo. Ela nos informou que, como nosso filho havia iniciado o
tratamento bem cedo, suas habilidades e desenvolvimento social e pessoal tendem
a melhorar de forma eficiente, como os de uma criança neurotípica, mas que pode
vir a ter apenas algumas leves complicações causadas pelo Autismo.
Quando recebi o
diagnóstico, foi sem dúvida, uma das piores noticias que eu já recebi, pois
este é o tipo de notícia que você não gostaria de receber de um médico sobre
seu filho. É um impacto violento, que você nem sabe de onde vem. Receber um
diagnóstico de que meu filho era autista, não foi nada fácil. Isso me traz
lembranças de quando fui um missionário (faço parte da Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Igreja dos Mórmons), e servi
no período de maio de 1999 a maio de 2001 em Goiânia - GO. No ano de 2000, no
Triângulo Mineiro e em uma cidade chamada Patos de Minas. Quando eu estava
realizando um serviço voluntário na APAE, tive meu primeiro contato com o
autismo. Até então, nunca tinha ouvido falar sobre isso em minha vida! Um
garotinho autista me pegou pela mão e começou a brincar de roda comigo e, no
segundo seguinte, me deu uma tapa no rosto. Esta foi uma experiência que me
mostrou como todas as vidas são importantes e valiosas para Deus.
Quando retornei
da consulta médica, deixei meu filho na escola e fui direto para casa para dar
a notícia para minha esposa. Depois que minha esposa foi dormir, eu fiquei
sozinho na sala e comecei a chorar, mas a chorar muito! Um choro de tristeza,
pois eu tinha um sentimento de perda e de total impotência diante da grande
situação que nos encontrávamos. Foi certamente, o momento mais triste de toda a
minha vida. Então, tomei a decisão mais acertada que poderia ter tomado:
enxuguei as lágrimas que rolavam pelo meu rosto, engoli as que restavam dentro
de mim e fui à busca de informações. Fiquei muito feliz com o que encontrei,
mas também triste por estarmos atrasados em relação a outros países.
Depois veio a parte delicada, que foi o
momento de falarmos com os familiares. Por parte de minha esposa, foi mais
simples conversar com eles sobre esse assunto, pois eles sempre estavam
próximos e nos apoiam muito. Já com a minha família, não foi tão simples quanto
eu pensei que seria, principalmente a minha mãe, que não se convencia que seu
neto fosse autista, mesmo Rayron estando diante dela apresentando todos os
traços característicos do autismo. Ela só se deu conta mesmo, quando meu filho
teve uma crise de choro repentina. Em relação aos amigos, estamos informando
aos poucos, na medida do possível.
Temos uma boa dinâmica em casa para
cuidarmos de nosso anjo, pois minha esposa e eu nos revezamos nas tarefas. As
nossas mães têm nos ajudado bastante e a escola tem sido uma grande parceira,
principalmente na parte disciplinar e educacional dele.
Hoje, somos
mais unidos, atenciosos, nos importamos mais um com o outro, em todos os
aspectos e o Rayron tem nos ajudado bastante nisso. Já passamos por várias
dificuldades e adversidades na vida, mas ele tem nos ensinado com as suas
grandes e pequenas conquistas a nos tornarmos mais humildes, tolerantes e
pacientes nessa grande empreitada da vida. O fato de ele ter começado a terapia
multidisciplinar desde os 02 anos e 10 meses, nos trouxe grandes avanços
e resultados maravilhosos. Posso dizer que esta tenha sido nossa maior
conquista com nosso anjo até hoje.
Fiquei um pouco frustrado no começo, com
certeza, mas era pela falta de informações. Às vezes, ainda sinto um pequeno
desânimo e me sinto um pouco impotente... Mas este pequeno desânimo só é
causado porque sempre quero fazer mais, porém, minhas possibilidades não me
permitem realizá-las.
Acredito que a
causa do autismo seja genética e que a cura seja o AMOR INCONDICIONAL. Descobri
esta cura, quando observei, no decorrer de minha pesquisa, de que Rayron podia
se desenvolver normalmente e que ele estava relacionado a grandes homens da
história que também eram autistas. Foi quando eu soube que ele poderia realizar
todos os seus sonhos e atingir os seus objetivos na vida. Foi nessa época que
descobri um grupo de pais de autistas aqui em Recife, até então, eu só conhecia
a AMA. Também nos inspiramos em alguns filmes e livros. Assistimos aos filmes
“Meu filho meu mundo” (Son-Rise), “Rain Man”, “Um amigo inesperado” e “Uma viagem
inesperada”. Aproveitamos para ler aos livros “Convivendo com Autismo e
Síndrome de Asperger” e “Mundo Singular”.
Depois que passamos por esta fase,
começamos a perceber tudo de forma mais leve, a ponto de termos nossos momentos
engraçados. Houve um dia, quando ainda estávamos no processo de adaptação,
Rayron estava muito agitado sem motivo algum. De repente, ele me pediu para
realizar uma tarefa no jogo do computador. Quando terminei minha parte, eu
disse a ele:
- Agora é com você. Se vira!
Não deu outra. Ele rodou em torno de si.
Kkkkkkkkkkkkkkkkk Ele, literalmente, “se virou”!
É nestas horas
de alegria que percebemos suas expressões de satisfação e é nítido como ele tem
se superado e, isso, não tem preço… O que minha esposa e eu podemos dizer às
pessoas é que nunca desistam de seus filhos, independente do grau de autismo ou
qualquer outro problema que tenham, eles são NOSSOS filhos e Deus os confiou a
nós, então, nos esforcemos para sermos merecedores dessa confiança. Lembremos
sempre que o melhor tratamento é aquele que se dá dentro das paredes de nosso
próprio lar.
Rayron Moraes do Nascimento Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada. |
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