Conheçam
Claudia Moraes, mãe de Gabriel Moraes, autista de 24 anos, e de Matheus Moraes,
neurotípico de 23 anos. Claudia é professora e escreveu um texto para a Revista
autismo intitulado “Autismo na Vida Adulta”. Além de mãe dedicada, é presidente
da APADEM (Associação de Pais de Autistas e Deficientes Mentais de Volta
Redonda). A Apadem trabalha há mais tempo com autismo no Rio de Janeiro, e é
referência no Sul Fluminense.
Claudia está
se graduando em Pedagogia pela Unirio. Ela recebeu da Câmara Municipal de Volta
Redonda a medalha Gloria Roussin, no Dia da Mulher, como cidadã que se destacou
no ano de 2012, por seu trabalho na Associação de Pais. Também é ganhadora do
Prêmio Orgulho Autista nesse mesmo ano.
Quando Gabriel estava com 01 ano e 8 meses, notei que algo estava
diferente. Então, eu o levei a uma profissional, que logo descartou autismo.
Com isso, ficamos rolando de profissional a profissional e de diagnóstico a
diagnóstico. Até que um dia, um profissional finalmente acertou. Meu filho foi
diagnosticado com autismo clássico, porém, ele já estava com 12 anos. Acredito
que se os médicos tivessem dado ouvidos a uma mãe quando meu filho tinha 02
anos, nossa história teria sido diferente…
Minha história teve um caminho contrário ao da maioria, onde há o luto
com a vinda do diagnóstico. No meu caso, meu luto era saber que meu filho era
autista, que precisava de intervenções específicas e eu não tinha um médico que
afirmasse isso, dando um diagnóstico. Minhas incertezas eram pelos tratamentos
que eu sabia que ele precisava e as pessoas ficavam dizendo que eu estava
louca, querendo ter um filho “doente”. Eu lia o pouco que encontrava na época
sobre a síndrome e cada vez mais me convencia de que ele era autista e que
precisava muito mais de mim.
Como havia uma dúvida muito grande sobre o que realmente o Gabriel tinha,
e de como lidar com ele, a família apoiou como pode. Hoje em dia, ele frequenta
uma ótima escola especializada na parte da manhã e no resto do tempo fica
comigo, na terapia e com o irmão.
Começamos a adquirir mais qualidade de vida depois que ele entrou para a
escola especial, em seguida veio o diagnóstico correto e também veio uma
adolescência tranquila. Eu fui amadurecendo, estudando sempre, criando um
círculo grande de amigos que também tinham filhos autistas, e pude perceber,
enfim, o tamanho da benção que tenho em casa. Minha vida melhorou muito, eu
cresci como pessoa, e ainda consigo doar um pouco do meu tempo e trabalho a
mais famílias de autistas dentro da Associação de Pais.
Para mim, as maiores conquistas estão nas pequenas coisas, pois são
aquelas mais simples como: aprender a comer sozinho, apontar algo, usar os
cartões da comunicação alternativa, dar um abraço, dar um sorriso, etc...
Há frustrações sim, e essas são em
relação ao diagnóstico tardio, que eu penso que o tenha privado de uma melhoria
mais significativa. E, também na hora quando penso sobre a minha passagem para
um outro Plano… Com quem ele ficará? Será bem cuidado? Mas, não penso nisso
frequentemente e tento fazer o meu melhor agora. Tem uma música que gosto muito
e que me inspira a fazer o dia de hoje melhor. Ela se chama “If Tomorrow Never
Comes” (E se o amanhã nunca chegar) e a letra diz mais ou menos assim:
“Algumas
vezes, tarde da noite, eu fico acordada observando ele dormir. Ele está perdido
entre lindos sonhos, então eu apago as luzes e me deito na escuridão. E
pensamentos passam por minha cabeça. E se eu não acordar amanhã? Será que ele
terá dúvidas de que o amei com todo o meu coração? Se não houver amanhã, ele
saberá o quanto eu o amei? Será que eu tentei mostrar para ele todos os dias que
ele é único para mim?...”
Acredito que brevemente haverá cura para o autismo. Em minha opinião, as
causas podem ser genéticas, mas, também acredito que as causas primárias são as
espirituais, precisamos de um corpo para abrigar o nosso espírito e nele
desenvolver as nossas vivências na Terra.
Lembro-me de um dia, quando fui ao velório de um garoto autista, que até
então vivia numa fundação para órfãos, ou crianças abandonadas pelas familias.
Cheguei ao cemitério, com uma amiga, e não havia ninguém velando o garoto. Não
havia flores, velas, nada... Foi muito chocante, pois pensei que como ele,
qualquer um de nós poderia estar naquela situação, inclusive meu filho, também
autista. Orei muito por ele e por sua mãe, que também já havia falecido, e pedi
sinceramente que naquele momento pelo menos, o menino pudesse ter um pouquinho
de felicidade no Plano Espiritual junto com sua mãezinha. Aguardamos ali até
chegarem pessoas da Fundação para o sepultamento.
Mas em compensação tive tantos momentos felizes em minha vida! Momentos
com meu filho, com filhos dos meus amigos, com as crianças da associação...
Tive momentos felizes como Presidente da Associação, como Claudia... Nossa, nem
sei o que citar. Bem, vamos falar do meu filho primeiro: quando ele, pela
primeira vez, me entregou espontaneamente um cartão de Comunicação Alternativa
pedindo biscoito. Ele não é verbal, e a comunicação alternativa faz uma grande
diferença. Chorei muito ao ver que ele estava se comunicando.
Com um dos meninos da associação, foi quando um pequeno que só gritava, e
ficava no colo da mãe, após uns meses de tratamento, veio correndo até a mim,
abraçou minhas pernas, olhou para cima me olhando nos olhos e disse: “Oi amor!”
Já como presidente da Associação, foi
quando fui convidada a discursar na Câmara dos Deputados, na Comissão dos
Direitos Humanos e Minoria em favor dos autistas adultos, e havia acabado de
ganhar o prêmio Orgulho Autista, foi alegria dupla!
Como Claudia, uma de minhas maiores
alegrias foi conhecer “ao vivo” os
amigos virtuais das listas de autismo e do Facebook . São tantos que fica
dificil citar todos os nomes, mas cada abraço deles foi um bálsamo ao meu
coração, tenham certeza disso. Como não poderia deixar de ser, vou citar um
nome em especial: minha grande amiga Liê Ribeiro, que conheci primeiramente na
Internet, e hoje em dia além de amigas somos vizinhas, nossos filhos estudam
juntos e são grandes amigos também.
E há também os momentos engraçados. Um
dia, eu e o Gabriel, que tem 1,83 de altura, estávamos em um ponto de ônibus. Uma
senhora se aproximou e tentou puxar conversa com ele, e como não teve sucesso,
ela perguntou se ele era surdo. Eu respondi que não, então, ela perguntou se
ele tinha algum “problema”. Eu disse que não, e brincando arrematei que em casa
quem tem problema sou eu, pois sou eu quem pago as contas. Não se dando por
satisfeita, ela continuou:
Então eu disse:
- Ele é autista.
Ela o olhou de cima abaixo e disse:
- Nossa, ele é alto mesmo”!
Tive algumas fontes de inspiração que me ajudaram nesta caminhada, li
livros como “Vida de Autista” de Nilton Salvador, “Autismo, Uma Leitura
Espiritual” de Herminio de Miranda e “Uma Menina Estranha” da Temple Grandin.
Assisti a alguns filmes que também me inspiraram, tais como “Tempo de Despertar”,
“Rain Man” e “Uma família especial” (The Magnificent Seven). Participei, também de palestras
inspiradoras, como “Autismo e Familia” com Nilton Salvador, “Aves Feridas” com
Nancy Puhlmann e “Autismo” com Christian Gauderer
Com todas essas experiências, e
outras não contadas aqui, posso dizer que sou muito feliz! Amo e sou amada,
isso é o que tem maior valor na vida!
Minha mensagem a todos vocês é que
não queiram mudar seus filhos, a mudança para o bem começa em nós mesmos, os
amando e aceitando como são, aí as melhoras neles começam a aparecer
progressivamente.
Ouço muitas mães dizerem: “Não tenho
tempo para mais nada, me dedico integralmente ao tratamento do meu filho”. Mas,
na verdade, muitas vezes o que essas pessoas estão fazendo é se tornando mães
cada dia mais estressadas de filhos autistas cada vez mais sufocados. Tudo tem
uma dose certa para ser saudável e feliz. Dediquem-se sim, mas não sufoquem e
nem queiram de uma vez muito mais do que eles possam dar. Vocês irão ver que,
aos poucos, eles surpreenderão muito e cada vez mais! Dediquem um pouco do seu
tempo e boa vontade para ajudar outras crianças autistas, e suas famílias, vocês
verão que as suas bênçãos na Terra irão redobrar.
Gabriel Moraes |
Lindo, lindo , lindo, obrigada pela foto do Gabi ao lado do amigo... emocionamente, e por 10 anos tenho também dividido e presenciado sua luta.Nossa luta.. parabéns. Liê e Gabi autista.
ResponderExcluirParabéns Claudia! Amei sua história e quero também lhe conhecer pessoalmente!!!!!!!!!!!!!Bjs nestes filhos maravilhosos, que com certeza, são presentes de Deus.
ResponderExcluirLindo demais! Parabéns.
ResponderExcluirClaúdia, parabéns pela sua linda e emocionante história de mãe e de seu amor maternal. Através de suas lutas pelo reconhecimento do Autismo para as pessoas que até então desconhecia, você conseguiu superar todas as barreiras e, com muita garra e conhecimentos. Feliz Ano de 2013 para você e família. Não esqueça de mim! Um grande abraço!
ResponderExcluirHistória linda e emocionante!!!
ResponderExcluirEu fico muito feliz por fazer parte dela e mais feliz ainda de poder conviver com o Gabriel, um rapaz lindo e adorável, dono de um sorriso encantador!!
Obrigada por colocar nossa foto juntos!!!
Prof. Maria do Rosário
Que lindo!! O que mais posso te dizer, não é? Já te falei tantas coisas, te admiro demais, és uma vencedora. Um grande beijo desta amiga gaúcha.
ResponderExcluirQue linda história a tua Claudia Moraes! Uma história de luta, perseverança e acima de tudo muito amor! Como Deus faz tudo certinho, não é mesmo? Ele sabia que serias preciosa para o Gabriel, a guardiã certa! Parabéns por tudo! Por levar ao conhecimento de outros pais tua história e mostrar que sempre tem uma saída e pra tudo tem solução e principalmente nada é para sempre, muito menos por acaso! Receba minha admiração, meu carinho, meu amor! E FELIZ ANO NOVO AMADA AMIGA! bjs!bjs!bjs!
ResponderExcluirMuito linda a história Cláudia. Parabéns!!! Um abraço. MArta.
ResponderExcluirNem nós mesmas acreditamos quando olhamos para trás e vemos tantos desafios superados, tantas tropeços e levantadas, vitórias e tanto aprendizado colecionado, não é? Você, minha querida Claudia, é uma das experts em superação e vitórias, e uma inspiração para muitas mães como eu. Siga iluminando os dias de seus filhos e dos filhos de tantas outras mães para quem você é amparo e referência. Todas as bênçãos para você!
ResponderExcluirAgradeço as amigas que comentararam, Liê, Iza, Daniela e Lubia. Suas histórias são taõ bonitas, ou mais que a minha, admiro todas vcs!
ResponderExcluirbjs
Claudia
Claudia Moraes, que depoimento emocionante. Por suas palavras de mãe de autista adulto, que já passou por tanta coisa e esta aqui dando este exemplo maravilhoso, sinto-me tocada profundamente. Não é o primeiro texto seu que leio, mas querida, que delícia ler seus relatos, te ouvir falar então foi maravilhoso demais. Que bom que pude te abraçar um dia. Graças a Deus eu tive esta alegria. Estou estudando de novo, pensando em mim novamente, continuando minha história de vida junto a de meu filho, porque percebo através de depoimentos como o seu que é possível seguir. Estando bem, segura de meus sentimentos, e sentindo-me capaz de apoiar meu filho em suas necessidades ele só tende a "evoluir e ser feliz". Você inspira as pessoas. Gabriel e abençoado com uma mãe maravilhosa. Muito beijos pra ti Claudia querida. Obrigada.
ExcluirA pouco se torna muito, muito p nós!!
ResponderExcluirA cada conquista uma vitória!!!