Magda e a linda Giovanna |
Conheçam Magda Gonçalves, mãe da linda Giovanna Nicole, autista de 07 anos.
Magda traz em seu relato a doçura e o equilíbrio que as mães precisam ter para conseguirem superar as dificuldades com seus filhos autistas. Não importa as bordoadas que ela tomou em sua jornada, pois a cada tombo, vinha uma vitória. Magda guardou seu luto por 03 dias. Dali em diante, transformou seu luto em coragem e levantou-se para combater o que a estava abatendo. Conheçam mais uma história de superação e felicidade.
Quando
Giovanna completou 01 ano e meio, começamos a perguntar constantemente ao pediatra
o porquê de nossa filha ainda não falar e não apontar. Como ela só começou a
andar neste período, o pediatra nos pediu calma e que “ela estaria mais para um
fusquinha”. Ele fez a seguinte comparação: “Tem crianças que são Ferrari e
outras, fusquinha. Talvez leve mais tempo para as coisas acontecerem.” E pediu
para que ficássemos tranquilos, pois iria dar tudo certo.
Mas
aos 2 anos a Giovanna continuava no mesmo quadro: sem falar, sem apontar e
brincávamos com ela, mas ela parecia que não nos via. Insisti com o pediatra,
até que ele nos encaminhou a um neuropediatra, o qual nos pediu uma série de
exames. Porém, nada apareceu para que pudéssemos considerar um problema
genético, físico ou mental.
O
diagnóstico só veio quando Giovanna já estava com 06 anos, há cerca de um ano e
meio, por uma psiquiatra infantil. Ele a diagnosticou como portadora de
patologia crônica F.84.0: Autismo Clássico.
Ao
ver que os resultados dos exames não indicavam nada, o neuropediatra disse que
o comportamento da Giovanna era o de uma criança autista. Foi um momento muito
difícil! Lembro-me que eu estava acompanhada da minha irmã que ficou assustada
e ao mesmo tempo muito preocupada comigo, pois a minha reação era de anestesia.
Naquele momento não consegui demostrar nenhuma emoção, só fiquei totalmente calada…
Falar o que de algo que eu não tinha nenhuma noção do que se tratava? Cheguei
em casa, tomei um banho e aí eu desabei! Chorei muito e, por três dias, fiquei
completamente sem chão. Quando minhas fichas começaram a cair, me toquei que eu
precisava começar e, para começar, eu precisava saber o que era o autismo. Comecei
a procurar informações pela Internet e procurei outros pais. Vi que minha
caminhada seria muito longa e árdua! O que eu não sabia era o quanto eu iria
aprender com minha filha. Meu lindo presente AZUL!
Ao
mesmo tempo, tinha alguns amigos e familiares que reagiram com pena, talvez por
não saberem do que se tratava. Eles achavam que a Giovanna iria ficar totalmente
debilitada e dependente por toda vida, o que me fazia mais forte, pois quanto
mais eu procurava informação para explicar a eles sobre o autismo, mais
informação eu tinha de que minha filha seria capaz de superar essa luta!
Após
receber o diagnóstico, eu ainda trabalhei por 02 anos mas, devido ao tratamento
multidisciplinar, o qual requer atenção de vários profissionais, escolhi deixar
minha vida profissional para me dedicar a ela. Hoje, quem me ajuda com a
Giovanna é minha filha de 18 anos e meu marido. Atualmente, ela frequenta
escola municipal, o que também ajuda muito no desenvolvimento dela.
Ainda
enfrento algumas dificuldades em lugares públicos, como supermercados e shoppings, ou lugares muito movimentados
e com muito barulho, mas estamos trabalhado por uma qualidade de vida cada vez
melhor para a Giovanna. Vejo que sua capacidade de compreensão melhora a cada
dia e já temos alguns progressos, tais como ir a um restaurante e explicar que
se ela se comportar vai ganhar batatinha frita. É claro que o tempo nos limita e
ainda não podemos ficar nestes ambientes por muito tempo, mas, aos poucos,
e com muito trabalho, estamos no caminho para atingir nossos objetivos.
Acredito
que nossa maior conquista até o momento foi o fato de ela identificar, através
de fotografias, sua família. Como Giovanna tem pouca verbalização, vê-la
conseguir, mesmo que com dificuldades, identificar o Pai Alexandre e a Mãe
Magda (é assim que ela nos chama) entre outros integrantes da família, foi muito
gratificante! Ela também teve um avanço na escola e já chama cada amiguinha e
as tias pelo nome.
Às
vezes me sinto impotente e sinto algumas frustrações, principalmente quando não
consigo entender o que ela quer e aí ela fica muito irritada. Neste momento, me
sinto frustrada! Isso não acontece com muita frequência e geralmente consigo
interpretar e resolver.
Analisando
a experiência que temos com o autismo e os relatos aqui colocados, acredito que
exista um progresso e que, se estimulado o quanto antes, o indivíduo terá maior
oportunidade de melhora e até mesmo de sair do espectro e assim obter a cura. Mas
acredito que o remédio para o autismo seja o amor, a paciência e muita
dedicação!
Não
sei dizer qual a causa para o autismo, mas ouço falar em muitas fontes
causadoras, no entanto, poucas são cientificamente comprovadas. Eu acredito,
por dedução, que o autismo possa ser genético, mas nunca ouvi falar que seja
comprovado cientificamente.
Independente
da causa, tenho muitos momentos felizes e procuro aproveitá-los. Cada pequena
conquista, como ganhar um beijo dela sem pedir, vê-la pegando o copo azul em
cima da pia ou pedindo pão na sessão de fonoaudiologia, ou, ainda, ouví-la
cantar suas músicas preferidas da galinha pintadinha… Isso tudo é demais!
Certa
vez, a Giovanna sumiu! Procuramos pela casa toda e nada. O portão estava
trancado, então deduzimos que ela poderia ter pulado o portão, pois não havia
mais onde procurar. Já tínhamos chamado a polícia e eu já estava desesperada. Quando
fui novamente procurar dentro do carro, que era um fusquinha, lá estava Giovanna: debaixo do banco do motorista, quietinha. Eu já tinha procurado no
carro, mas não a tinha visto lá embaixo. Primeiro, dei graças a Deus e, depois,
ri muito, pois a situação nos fez chamar até a polícia!
Isso
ajuda a amenizar os momentos tristes como, por exemplo, o dia em que ouvi uma
pessoa próxima perguntar por que eu me esforçava tanto para que Giovanna
aprendesse a ler e a escrever já que ela nunca iria para uma faculdade e também
nunca teria uma profissão. Naquele momento eu percebi o quanto algumas pessoas
são preconceituosas e sem informação. Apesar da tristeza que me abateu no
momento, aquele comentário me trouxe ainda mais o desejo de ver minha filha
alfabetizada, luto muito para isso e sei que vamos conseguir!
Sempre
procurei me informar através de livros, palestras, oficinas etc. É sempre bom
estar em contato com pessoas que sabem sobre o assunto e sempre que posso
procuro participar de palestras e me envolvo com ações voltadas pela causa do
autismo. Estar envolvida, sempre me traz experiência pois, convenhamos, não é
do dia para noite que conseguimos saber de um assunto tão complexo. Como lidar,
como tratar, com quais profissionais tratar... Isso leva tempo! É por este
motivo que, quanto mais nos envolvemos, mais vamos nos moldando. Dessa forma, sinto-me
muito mais informada e segura ao falar do autismo da minha filha. Considero-me
muito FELIZ e a mensagem que eu deixo é que nunca devemos desistir de um sonho.
Se hoje ele parece estar longe e parece ser impossível é porque não chegou a
hora. Não deixe de lutar! Na hora certa as coisas vão fluir. E como é bom poder
curtir cada momento, cada ato por menor que seja. Não deixe as decepções da
vida tirarem esses momentos tão precisos que virão.
Talvez
você esteja passando por momentos de muita angústia, talvez por não saber o que
fazer com uma criança que não te responde e é tão distante do nosso mundo, mas acredite
em Deus! Ele tem um propósito em todas as coisas. Ele me ensinou muito através
da minha filha e ainda tenho muito o que aprender com ela. Ser mãe ou pai de
uma criança especial é ter nas mãos a oportunidade de nos transformar em uma
pessoa melhor. Sempre temos algo a melhorar e essas crianças têm as chaves para
isso, acredite. Confie em Deus e nunca se esqueça de que nós precisamos de
ajuda e que também precisamos de cuidado e de um tempo para nos cuidar. Não
importa se este tempo seja pouco, o que importa é que seja um tempo de
qualidade! VIVA BEM...
Giovanna Nicole Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada. |