terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Eloiza Freitas


Conheçam a história de Eloiza Cristina de Freitas da Conceição e de suas filhas, Letícia Freitas da Conceição e Priscila Freitas da Conceição, que são gêmeas autistas e têm 5 anos. Eloiza Freitas é professora de Educação Especial em Belford Roxo e no ensino regular, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Em 2012, ela escreveu um livro para dividir momentos de superação com todos. Para Eloiza, a “inclusão escolar não deve ser feita apenas em sala de aula, tem que iniciar dentro da própria casa, aceitando o próximo com as suas imitações”.

“Quando minhas filhas estavam com 01 ano, comecei a perceber algumas regressões e algumas manias diferentes em ambas, como, por exemplo, ficarem horas e horas brincando com a sombra. Como eu trabalho com alunos especiais, comecei a desconfiar que se tratava de autismo, só precisava da comprovação médica e alguns exames para descartar a possibilidade de outras síndromes.
Até hoje, os médicos não definiram qual o tipo de autismo, porém, devido à regressão na linguagem e no comportamento antes dos 03 anos de idade, acredito que seja autismo infantil. Apesar de todo a regressão, elas apresentam muito entendimento, mas o que mais prejudica é a falta de linguagem oral.
O que mais me angustiava no início era quando algumas amigas com filhos da mesma idade falavam dos avanços dos mesmos e eu percebia que as minhas não progrediam da mesma forma. Logo após a confirmação do diagnóstico, o pai delas me abandonou e esta angústia no peito transformou-se em depressão...
Alguns amigos e familiares não acreditavam que algo estivesse diferente. Eles achavam que era da minha cabeça. Outros cismavam em achar que o problema era comigo, porque eu já tinha um filho com Paralisia Cerebral, que ficou assim porque passou da hora de nascer.
Hoje em dia, tenho minha mãe que me ajuda como pode. Até este ano de 2012, elas ficavam dois dias na creche, mas, em 2013, tentarei arrumar alguém para me ajudar em casa nos dois dias que trabalho em outra escola. Na verdade, muitas coisas mudarão no ano que vem e, uma delas é que ficarão todas as manhãs na escola especial ao invés de somente três dias.
Mas essas mudanças não me assustam porque não sou o tipo de pessoa que me entrego às adversidades. Quando passei a acreditar que elas podem ir muito mais além do que apresentam e que eu também posso me superar, mesmo tendo três filhos especiais, percebi que, mesmo passando por todas as dificuldades, somos capazes de nos superar diariamente. Algumas pessoas acham que tem problemas na vida, mas mostro a elas que eu ainda permaneço de pé, vivendo um dia de cada vez, mesmo com todas essas provações! Ter duas filhas autistas e um filho com paralisia cerebral não é motivo para me entregar, pois precisamos ter qualidade de vida. Se eu me entregar, quem lutará por eles?
Claro que me sinto frustrada às vezes, pois há momentos que eu as vejo chorando ou irritadas e não consigo entender o motivo. Também quando tenho que sair e deixá-las com alguém, ou quando minha mãe briga com elas achando que o comportamento é planejado para conseguirem o que querem... Fico frustrada, principalmente, à noite, quando todos dormem e eu fico muito sozinha, pensando em tudo...
Em contra partida, pude perceber nessa jornada como o autista é uma caixinha de surpresas. Alguns conhecimentos parecem até que nascem com eles e só precisam ser estimulados. Já consegui tirar as fraldas de uma e as duas já seguram o copo sozinhas. Já tomam algumas iniciativas, como brincar com outras crianças, e já se comunicam de alguma forma. Tudo isso se mistura a muitas outras bênçãos!
            Faço algumas conjecturas sobre o que teria causado o autismo em minhas filhas e acredito que elas já nasceram com 100% de probabilidade de desenvolver o autismo, mas depende de algum fator para que ele se manifeste, talvez um alimento (dava muito suco de laranja, pode ser a vitamina C) ou uma decepção grande (o cachorrinho delas fugiu ou porque nos mudamos para longe dos meus pais, na época, ou porque tive que ir trabalhar, deixando-as aos cuidados de outra pessoa. Não importa qual seja a causa, eu creio que haja cura para o autismo. Não perco a fé jamais!
Nem posso perder as esperanças, pois apesar de existirem momentos difíceis que nos machucam, quando, por exemplo, passei por uma pediatra que disse que a Priscila a estava agredindo, deixando de examiná-la, ainda fez ânsia de vômito ao verificar a sua garganta , o que me motiva mesmo são os bons momentos que passamos juntos. São vários, mas o melhor foi quando elas começaram a demonstrar o entendimento de muitas coisas, só não ainda das palavras faladas, mas já atendem pelo nome e sabem o que é “Não”. Essas conquistas são maravilhosas...
E há momentos que até acho engraçados, como por exemplo, um dia que meu ex-marido foi procurar a Letícia, que sempre gostou de água, e encontrou-a dentro do vaso sanitário, brincando com a água que estava lá. Ainda bem que estava limpo! (Rsrsrsrsrsrs).
            Com todas essas experiências, momentos bons, ruins, tristes e alegres, minha fonte de força sempre foi Deus. Foi somente em Deus que encontrei forças. Um dia, comecei a digitar o que Ele queria me dizer e tudo isso está escrito no meu livro Recriando asas no abismo.

Eu vivo um dia de cada vez. Quando penso no amanhã, sofro um pouco, então prefiro apreciar as conquistas do presente. Só não sou mais feliz porque não tenho o pai das minhas filhas aqui comigo, ajudando-me na superação desses momentos... Qualquer filho, independente de ter síndrome ou não, é herança do Senhor. Não questione Deus pelo que seu filho ainda não faz, mas agradeça a Ele por cada conquista, dia após dia.

Quem quiser adquirir o livro, escreva para: Izafreita40@gmail.com

Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.

15 comentários:

  1. E por existirem pessoas como você, que acredito que vale a pena viver.... obrigado por compartilhar sua história; sua vida; com todos nós.
    Parabéns, por tudo.
    Sua família é linda.
    Deus abençoe vocês hoje e sempre.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Audrey, também te admiro muito! Obrigada pelas palavras!

      Excluir
  2. Me tocou profundamente!!! Um depoimento muito rico em tudo o que a Iza relata. São esses obstáculos que nos fazem ficar mais fortes... Eu logo mais deixarei o meu aqui. Me aguardem!!! Um abraço!!!

    Lourdes Vieira.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Lourdes! Deus tem me dado forças para continuar caminhando...

      Excluir
  3. Eloiza parabéns pelo emocionante relato,a estrada é longa,mas superou a parte mais complicada que é o inicio.Agora é seguir em frente,fé Guerreira Eloiza... um Forte Abraço que Deus a ilumine

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada! Deus tem me sustentado e me carregado no colo diariamente.

      Excluir
  4. Eloiza parabéns pelas lindas filhas e por essa trajetória. Vc é um exemplo de ser humano.
    Abçs
    Claudia Moraes

    ResponderExcluir
  5. Maria cristina santos machado27 de dezembro de 2012 às 09:53

    Um testemunho lindo,mas que nâo chegou ao fim !Deus tem mais alegrias reservadas prá vocês!É só confiar e esperar!Deus é Deus de supresas!Que Deus continue te abençoando e te capacitando,mulher guerreira!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Maria Cristina! Com certeza, Deus está lapidando minhas bênçãos...

      Excluir
  6. Parabéns por sua força. Obrigada por publicar sua história. Beijos!!!

    ResponderExcluir
  7. Bom ler coisas assim, não sabemos a dimensão de tudo que nos cerca.
    Obrigada por me fazer crescer e acreditar nos seres humanos.
    Seus filhotes são bênçãos.
    Bj Cirlene

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada querida! Tenho certeza de que se eu não tivesse tanta gente boa ao meu redor, eu não teria nem a metade da força que tenho. Muito sucesso esse ano. Bjs.

      Excluir
  8. Fiquei muito emocionada com o seu depoimento. Enquanto lia.... ficava pensando na luta q minha irmã enfrenta com a sua filha autista. Apesar do apoio da família, muitas vezes nos sentimos impotentes.
    Hj a vida social dos pais dela está completamente comprometida, se resume a casa deles e de familiares próximos.
    Eu tbm tenho um filho especial com síndrome de Down. Considero o Rogério o menor dos meus problemas, graças a Deus. Ele tem 25 anos, é um rapaz feliz, amável, festeiro...um doce. Vou repassar o seu depoimento pra minha irmã. Hj sinto q ela e meu cunhado estão esgotados. Que Deus dê a eles muita força pra enfrentar essa luta diária. A Michelle tem um comportamento muito difícil.
    Mudando um pouco de conversa, fiz o concurso de 2012 para professor II de Belford. Quando chamarem, não sei quando...quem sabe poderemos ser colegas de trabalho rsrsrsrs
    Bjs

    ResponderExcluir