quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fernanda Aparecida Araújo Cavalcanti


Conheçam a história de Fernanda Aparecida Araújo Cavalcanti, mãe de Igor Guilherme Araújo Cavalcanti. Fernanda é casada e mora em Santo André. Além de mãe e esposa dedicada, Fernanda está cursando Gestão de Segurança Pública e Privada na Fatej (Faculdade de Tecnologia Jardim) e ainda assim, arruma tempo para cuidar do bem estar de seu anjo.


Quando Igor estava com 08 meses, ele ficou internado por 17 dias por causa de Refluxo. Mesmo sendo ainda muito novinho, notei que algo não estava bem. Mas somente ouvi a palavra autista mais tarde, da diretora da EMEI em que ele estava matriculado.
Aos 02 anos, eu o levei a uma médica que, durante a consulta me perguntou:
- Mãe, você concorda que ele seja autista?
Eu respondi que sim. Então, sem muita explicação, ela me deu um laudo e completou:
- Os pais têm que aceitar!
Saí de lá com muitas dúvidas e só as tirei quando fui ao Centro Pró-Autista, quando Igor já estava com 04 anos, que fica no Bairro da Saúde. Lá ele foi diagnosticado com autismo severo e foi aí que comecei a esclarecer minhas dúvidas. Mas ainda tenho algumas inseguranças, pois eu gostaria que ele falasse e gostaria, também, de entender sobre a visão do autista.
Uma vez, uma psicóloga me disse que objetos coloridos “se moviam” na visão do autista e que algumas coisas eles não eram capazes de ver, já outras coisas, eles viam super bem. Mas nunca consegui achar nada disso na Internet para entender melhor. Achei tudo muito confuso. Gostaria muito de achar algo que me explicasse isso e me ajudasse a entender melhor sobre a visão que eles têm.
            Em relação à família, às vezes é difícil, porque eles fingem que entendem, mas, antigamente, diziam que eu é que não sabia ensiná-lo. Atualmente, ele fica na APRAESPI, em Ribeirão Pires até às 12:00, depois sou eu quem cuido dele. Tive que deixar o emprego para ficar com ele e meu marido, quando está em casa de folga, me ajuda muito. Mas não confio em mais ninguém para cuidar dele, porque às vezes ele agride, por isso eu prefiro que eu mesma cuide.
            Nunca parei para pensar em qualidade de vida, mas sempre penso que não posso morrer e deixá-lo sem saber se cuidar. Eu vou vivendo um dia após o outro. Mas isso não me impede de ver suas evoluções. Um dia, ele decidiu, sozinho, parar de pedir colo. De repente, começou a comer sozinho, começou a subir e a descer as escadas, também sozinho, e começou a usar o copo de vidro (não quis mais usar o copo de bico). Ele também já abre e fecha a porta da geladeira. Pode até parecer pouco, mas para mim é muito!
            Há também aquele momento frustrante, que é quando vamos ao Hospital das Clínicas e ele começa a me agredir. Eu me transformo em outra pessoa... Uma pessoa mais sensível e chorona, porque é difícil vê-lo me agredir diante de outras pessoas. Ele começa a me arranhar, morder, a gritar, ataca quem vier me ajudar e me joga no chão. E quando ele se acalma, fica com cara de arrependido e me beija muito.
            Eu acredito em cura para o autismo. Não sei qual é a causa, mas conheço muitas mães que tiveram uma história como a minha, que começou com uma internação por Refluxo. Quando ele teve esta crise, ele sofreu muito! Chegou ao hospital quase morto, não estava respirando e fez várias aspirações com aparelho para não engasgar. Foi simplesmente horrível! E quando ele voltou do hospital, ele já não brincava mais e nem sorria. Eu achei que ele havia ficado traumatizado, mas isso só foi piorando e ele começou a chorar o tempo todo.
            Mas acho que o pior de tudo foi quando ele foi diagnosticado com psioriase. Ao menos para mim, isso ainda é pior que o autismo. Ele tem um tipo de psioriase que é o 2º caso no Brasil. É um tipo de psioriase que inflama e vira artrite. Ele ficou um mês internado e eu achei que ele fosse morrer… Não gosto nem de me lembrar. E este ano, quase que ele ficou internado novamente, mas graças ao Hospital das Clínicas, ele está comigo.

            No meio dessa caminhada, encontrei a APRAESPI. Só para se ter uma ideia, eu ia lá TODOS OS DIAS! Olhava tudo aquilo e sentava na calçada para chorar, pois uma vaga lá é muito difícil. Quando o Igor foi chamado, aos 05 anos, foi um dos momentos mais felizes da minha vida! Eu chorava tanto ao telefone quando eles me ligaram, que a recepcionista me disse:
            - Senhora, quando estiver mais calma, por favor me ligue de volta.
Há também os momentos engraçados que passamos juntos. No ano passado, eu estava na casa da minha mãe e meu pai chegou com uma garrafa de Coca-Cola e uma outra de Fanta, então ele disse:
- Qual eu abro? – E meu esposo respondeu:
- Ah, abre a Coca.
E mais que depressa, o Igor veio correndo lá da sala e apontou para a Fanta desesperado! Todos ficamos surpresos, porque ele não atende a chamados e não mostra nada, mas aquele dia, ele se comunicou. Todo mundo se admirou e todos disseram:
- Ah, ele quer a Fanta! Vamos abrir a Fanta, não é Igor!
Igor
Em todos estes anos de convivência com meu anjo, posso garantir que ele sempre foi minha fonte de inspiração. Há algum tempo, eu tinha alguns traços autísticos, mas fui me adequando depois que ele nasceu. Comecei a escrever sobre ele desde seu nascimento, mas acabei parando. Hoje, eu faço o que posso para fortalecer as mães da APRAESPI.
            Eu sou muito feliz e gostaria de dizer às mães para aceitarem seus filhos como são. Seja feliz com seu filho, independente do autismo! Se você se revoltar, só irá piorar a situação, pois a criança é capaz de perceber sua revolta. O autista adora elogios, então elogie sempre. E, o mais importante, mesmo que ele não converse, fale com ele e passe horas dando atenção a ele.


Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.

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