Conheçam Brian Bird, pai de Benjamin,
autista de 08 anos, e de Daniel, que tem 19 anos e é Asperger. Brian mora em
Kent, próximo a Londres, com sua amada esposa Eva. Ele foi diagnosticado
como Asperger aos 50 anos e também sofre de dislexia. Brian morou no Brasil de
1991 a 1993, em São Bernardo do Campo, onde trabalhou como Professor de Inglês.
Apesar de não morar aqui há 20 anos, Brian sempre visita nosso país e é grande
fã de nossa cultura. De volta para a Inglaterra, trabalhou por conta própria,
mas há 04 anos teve que parar por problemas cardíacos. Brian diz que “um
Asperger tem que aprender a viver em sociedade, coisa que um neurotipico já
sabe instintivamente.”
Quando Daniel estava com 01 ½ ano, eu
notei que ele era diferente, pois ele não falava e não brincava com outras
crianças. Com Benjamin, foi mais ou menos com a mesma idade, porém seus traços
eram ainda mais fortes que os de Daniel. Já comigo, eu sabia que algo estava errado
desde quando eu tinha uns 06 ou 07 anos, mas não tinha a menor ideia do que era
ou que nome dar. Era somente uma intuição muito forte. Aqui na Inglaterra é comum
termos a visita de uma espécie de enfermeira que deve auxiliar as famílias em
relação à saúde física e mental da comunidade. E foi esta enfermeira a primeira
a dizer que algo estava errado com meus filhos, mas, lá no fundo, eu já
desconfiava que havia algo de diferente neles.
Benjamin foi diagnosticado com
Desordem do Espectro Autista, Daniel com Síndrome de Asperger e eu com Síndrome
de Asperger e Dislexia. Minha reação em relação ao Benjamin foi de luto. Fiquei realmente chocado. Em relação ao Daniel, que foi diagnosticado aos 15
anos, foi uma sensação de alívio, uma vez que eu pude conseguir vários tratamentos
que ele tinha direito e necessidade. Já em relação a mim, eu tive que
lutar por 03 anos para conseguir meu diagnóstico e, quando eu finalmente consegui,
fiquei muito chocado e deprimido, mesmo sabendo que essa era a mais pura
verdade…
Contudo, hoje aceito completamente
todos os nosso diagnósticos e sinto que somos abençoados por sermos especiais,
diferentes e felizes. Eu tenho muito orgulho de ser pai de dois garotos tão
maravilhosos e talentosos. Eles são minha vida e
minhas bençãos.
Durante todas as minhas batalhas, meus
poucos amigos e familiares desapareceram no ar… Mesmo aqui na Inglaterra este
assunto é um taboo e as pessoas preferem te evitar a aprender algo novo.
Eu não tenho ajuda de ninguém para
cuidar de meus filhos. Eu me separei e recentemente reatei com minha esposa,
mas para ser bem honesto, ela não é muito paciente e não aceita que sua vida
tenha mudado. Por sorte, eu sou muito paciente, calmo e percebi que tenho uma
enorme responsabilidade para o resto de minha vida. É claro que minha esposa tem
outras qualidades que compensam quaisquer limitações que eu possa ter. Porém,
eu realmente sinto que ser um Aspie, na verdade, me faz ser um pai melhor e,
claro, eu tenho um entendimento único do que a criança que esteja no espectro possa
estar passando.
É natural que o autismo nos teste até
atingirmos nosso limite, pois molda nossas vidas, às vezes para melhor e às
vezes para pior. É meio complicado, ao menos para mim, falar sobre o assunto,
já que minha visão como Asperge seja, talvez, diferente da visão de um
neurotípico. Entretanto, eu sou humano e sofro como qualquer outra pessoa. Eu
vejo o autismo como uma aventura para o resto da vida, como um pacote de
experiências que somente alguns conseguem suportar.
Eu acho, de verdade, que com o tempo,
os pais de pessoas autistas devam aceitá-las como elas são. Eu sei que isto é
muito difícil para alguns pais e eu realmente admiro àqueles que estejam
cuidando de pessoas dentro do espectro. Digo isso, porque cuidando de meus
filhos já tive várias vitórias. Minha principal vitória com o Daniel é que ele
está se tornado independente e agora está na universidade. Ele fez vários
amigos e está aproveitando sua vida. Com Benjamin, eu tenho muito orgulho que
ele seja completamente verbal hoje em dia e que vai bem na escola. Ele está tentando
fazer amigos, mas tem sido muito difícil, uma vez que ele recebe muita rejeição.
O fato de haver pessoas preconceituosas, incluindo professores e profissionais
da saúde, é uma grande frustração para mim. E ainda há aqueles que simplesmente
escolhem nos odiar e ventilar seu ódio por aí. Eu mesmo sofri preconceito minha
vida inteira, mas continuo me mantendo forte e nunca permito que ódio ou amarguras
corrompam minha alma. Entretanto, sofro de depressão e atribuo este sofrimento
a vários anos de bullying que sofri na escola.
Eu acredito que o autismo seja uma
desordem Neuro/Genética e que estejamos muito distantes da cura. Minha
preocupação é que talvez estejamos nos afastando cada vez mais da cura devido a
como o assunto tem sido tratado. Eu não acredito que há uma epidemia de
autismo, e sim que o diagnóstico está ficando mais fácil e mais acessível às pessoas.
Para ser bem honesto, hoje, não
acredito em cura para o autismo e nem espero por uma. Eu apenas sigo minha vida
e cuido de meus filhos. Quanto a mim, não tenho certeza se quero ser
curado. Eu sou o que sou e aceito quem sou. Eu não creio que um Aspie seja um
apessoa doente, apenas diferente, logo, sou incurável! hahahahaha
Há vários momentos inesquecíveis nesta
minha jornada, mas alguns deles foram marcantes. Como o dia em que Daniel me
disse que havia entrado na universidade, ou o dia em que Benjamin disse que
sentiu minha falta… Todos os dias temos nossas alegrias e nós as valorizamos,
mesmo parecendo muito pequenas aos olhos dos outros.
Um dos momentos mais engraçados, foi
um dia em que eu saí de ônibus com Benjamin. Ele costumava falar com estranhos,
jogar meu celular no chão e tocar o sinal para o motorista parar em cada ponto!
Por várias vezes, havia mães no ônibus com bebezinhos e Benjamin adorava
gritar: “Bebês são gordos!” kkkkkkkkkkkkkkkk Eu queria desaparecer da face da
terra quando via o olhar daquelas mães para nós.
Contando todas estas histórias, tento
lembrar o momento mais triste de minha vida e vejo que não está relacionado com
o fato de ser Asperger, mas sim com o falecimento de minha mãe, que morreu de
câncer quando eu tinha 10 anos. Ela tinha apenas 39 anos… Era uma mulher linda,
tinha dois diplomas universitários e falava 05 idiomas. Eu nunca tive a chance
de dizer adeus, pois ela tinha sido levada a um hospital especializado em câncer
por seis semanas. De repente, me disseram que ela havia falecido. Isso criou um grande prejuízo
emocional em minha vida e, até hoje, ainda estou me recuperando. Meu pai morreu
quando eu tinha 19 anos. Tenho lembranças tristes também de quando eu era
criança e as crianças roubavam meu dinheiro, me batiam e judiavam muito de mim.
Sofri tanto bullying e apanhei tanto que hoje tento proteger muito meus filhos.
Eu vivia momentos terríveis e morrendo de medo, pois era maltratado todos os
dias. Cheguei até a ser ameaçado com uma faca.
Mas mesmo com todo este dano
emocional, sempre tentei achar inspirações para minha vida para poder
continuar. Minha maior inspiração foi Temple Grandin e sua linda história. Meu
avô também foi um grande exemplo, pois me passou muita sabedoria e me ensinou o
valor de quem eu era e de ser uma boa pessoa com senso de honestidade e
compaixão.
Tenho vários altos e baixos. Eu sofro
de uma depressão profunda em alguns momentos, mas tenho também momentos
maravilhosos com meus filhos. Quando vejo o rosto deles iluminados com um
sorriso, não dá para ficar triste por muito tempo. Logo, não posso dizer que eu
seja feliz ou triste, mas que tenho os dois sentimentos dentro de mim se
intercalando. No entanto, lá no fundo da minha alma, eu sinto que sou muito
abençoado e que tenho muita responsabilidade de criar meus filhos para que
alcancem independência antes que eu deixe este mundo. Como disse Temple Grandin,
“eu sou diferente, mas não inferior”. Estas palavras são de extrema importância
quando se diz respeito ao autismo. Eu prefiro pensar no autismo como um jeito
diferente de ser, uma perspectiva diferente, mas não inferior. De nossas
fraquezas vêm nossas forças!
Meu
conselho, para ajudar as crianças autistas/aspergers, é encontrar algo
interessante e deste algo ajudá-los a fazer amigos. Este interesse também pode
ajudá-los a lidar com ansiedade, depressão e tédio.
Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.
Daniel e Benjamin |
Adorei! Brian é uma bela pessoa e um bom amigo. É um lutador e serve de exemplo para todos nós.
ResponderExcluirBela história...
ResponderExcluirAdorei
Maravilhosa história! Parabéns guerreiro!!!!
ResponderExcluirGuerreiros da vida real, Parabéns!!!
ResponderExcluirBrian, parabéns por não desistir nunca, assim vc fez um caminho de luz!
ResponderExcluirabçs
Claudia Moraes