Silvana Heberle Dropa

Conheçam Silvana Heberle Dropa e Rafael Heberle Dropa, seu filho autista de 05 anos. Silvana mora em Blumenau, SC, é casada, farmacêutica e mãezona. Em 2012, começou a escrever um Blog sobre seu anjo e, isso, foi um marco de aceitação por toda sua família: www.mundodonossoanjo.blogspot.com.br . Sua citação inicial em seu blog é muito emocionante. Imaginem o resto! “Dedico este blog aos meus amores: meu marido Marcos, um guerreiro, e nosso lindo filho Rafael, que juntos vamos vencer todas as batalhas e desafios”. (Silvana Heberle Dropa)

Rafael teve um desenvolvimento típico até quase seus 02 anos de idade. Um dia, ele parou de falar e começou a apresentar alguns comportamentos diferentes das outras crianças, como girar objetos, gritar, fazer birras, não dar importância aos brinquedos e não responder ao ser chamado. Como percebemos todas estas mudanças, iniciamos a investigação por exames para verificar sua audição, que surpreendentemente é melhor que a minha, e só depois do segundo ano na escola, já com 3 anos, ele demonstrou alguns sinais que chamaram mais a atenção. Ficou mais agressivo com os colegas, jogava tudo no chão, quebrava os brinquedos e só falava algumas sílabas.

Ao completar 03 anos, fizemos uma festa de aniversário linda para o Rafael em uma casa de festas com tudo o que ele tinha direito! Mas, infelizmente, ele se sentiu péssimo na festa e não quis chegar perto de ninguém, apesar de ter brincado bastante. Porém, ele sempre ficava na companhia do meu marido ou da minha. Foi um pesadelo...

Além desta festa, nesta mesma época começaram a surgir problemas na escola. Todos os dias tinha uma reclamação de seu comportamento: ele mordia as crianças, jogava brinquedos, ficava muito nervoso. E ele realmente estava muito nervoso por não ser compreendido, pois ainda não falava quase nada, somente algumas sílabas que significavam palavras para ele, mas que as pessoas ao redor não entendiam.

Quando recebemos a filmagem da sua festa de aniversário, não conseguimos assistir nem até a metade e percebemos que realmente algo estava acontecendo e que esse algo era mais sério do que pensávamos. A partir daquele momento voltamos a pesquisar na Internet sobre causas da ausência de fala e achamos novamente a palavra Autismo. Então, marcamos um neuropediatra em Curitiba que o diagnosticou de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento não especificado, o qual ele me disse ser um grau leve de autismo. Saímos da consulta derrotados! Receber o diagnóstico foi, com certeza, o pior momento de nossas vidas. Só quem recebe algum diagnóstico em seu filho sabe qual é a sensação, que começa por um alívio, por descobrir o que há de errado, e depois vem a sensação de culpa e as indagações: “Será que eu ‘passei isto’ ou causei de alguma forma isto no meu filho?” Tudo isso acompanhado de um medo do futuro que vem seguido de mais indagações: “O que será do nosso filho?” E por último, a incessante busca por informações sobre o transtorno.

Compramos muitos livros, lemos tudo o que achamos na Internet e logo que retornamos a Blumenau já buscamos as terapias recomendadas e fizemos todos os exames necessários. Hoje, vemos que realmente aceitamos nosso filho como ele é e que isto não significou desistir de nossos sonhos com o Rafael. Apenas tivemos que modificar nossos sonhos e adaptá-los ao que nosso anjo consegue fazer. Rafael enche nosso lar de alegria e ternura, a casa fica vazia quando ele não está e fica repleta de luz na sua presença.

            Os amigos e familiares demoraram um pouco para aceitar, mas acredito que isso seja normal, pois uns reagem mais rápido enquanto outros precisam de mais tempo para digerir as informações. E tem ainda os outros que acham que é tudo normal e que o Rafael não tem nada. Tudo bem, desde que todos respeitem seu jeitinho de ser. Na época em que o Rafael estava com o comportamento mais comprometido, nos isolamos dos amigos, pois era difícil sair com ele, porque ele estranhava as pessoas, derrubava tudo e não gostava de visitas em casa.

Mas tudo foi sendo vencido com a ajuda de algumas pessoas especiais. Primeiramente, tem meu marido que me ajuda muito na criação do Rafael. Ele é um exemplo e um herói para nosso menino, que o admira e o respeita muito. Tem também meus pais e minha irmã, que me socorrem para tudo o que precisar. O Rafael adora sair com eles e até dormir na casa deles. Ele frequenta terapias no período da manhã e escola regular à tarde, e para poder levá-lo e acompanhá-lo em tudo, parei de trabalhar há um ano.

Tudo isso contribuiu para que neste ano de 2012 nossa qualidade de vida melhorasse muito! Nós levamos o Rafael em todos os lugares que vamos, desde shoppings, supermercados, lojas, até parque de diversões, praia, hotéis e ele agora adora passear e estar perto de pessoas e crianças.

Mas nossa maior conquista é a comunicação. Aos 05 anos, ele já fala frases e consegue expressar tudo o que deseja, já canta algumas músicas e adora tocar instrumentos musicais com o papai e com seu professor. Com o advento da fala, ele ficou mais malandro e bem humorado! rsrsrsrsrsr Além da comunicação, o Rafael desenvolveu muito a interação social e a percepção do outro nestes dois anos de terapia. Agora, ele busca cumplicidade com as pessoas que o rodeiam em brincadeiras, atividades e interações.

Contudo, às vezes nos sentimos frustrados quando o Rafael tem alguma crise comportamental e parece sofrer por não entender determinada situação. Neste caso, tentamos acalmá-lo e explicar o que está ocorrendo e o que esperamos dele, pois dói muito em nós vê-lo descontrolado ou nervoso.

Não acreditamos que o autismo seja uma doença para ter uma cura específica, e sim um distúrbio metabólico que afeta todo o sistema nervoso causando os sintomas do espectro do autismo. Pode ser uma pré-disposição genética aliada  a uma síndrome metabólica causada por fatores ambientais, mas isto para o caso dos autismos regressivos. E acreditamos que podemos, sim, reverter estes sintomas cada vez mais para que nosso filho continue sendo sempre uma pessoa feliz, independente e realizado.

"Avião do papai" - por Rafael

Aliado ao nosso empenho em fazê-lo feliz, temos vários momentos com nosso menino que nos trazem muita alegria, mas em especial um momento nos marcou muito. Papai viajou de avião à trabalho para fora do Brasil e ficou vários dias longe de casa. Nesta fase, Rafael, que estava com 04 anos, ainda falava muito pouco e enquanto mamãe estava no computador, ele veio pegou papel, canetinhas e réguas e começou a fazer um desenho, sem ninguém pedir para ele desenhar. Quando terminou, ele disse: “avião do papai”, vendo o desenho no primeiro momento não entendi bem, mas depois percebemos que ele desenhou um avião em perspectiva, o que nos emocionou muito, pois nesta fase ele só rabiscava tudo sem sentido, e neste desenho quis expressar as saudades do seu pai.

Além de momentos emocionantes, temos também nosso momentos engraçados, pois o Rafael é muito bem humorado, engraçado, e sempre está feliz e sorrindo. Eu acredito que o momento engraçado mais recente, foi sua apresentação de música, em que ele tocou pela primeira vez com uma banda e se sentiu muito feliz. Sua reação no palco foi muito engraçada e contagiou todo o público que assistia, pois sua empolgação e alegria, ao conseguir se apresentar, ficou evidente em seu sorriso e em seus pulos no palco.

Posso garantir, sem medo de errar, que somos muito felizes! Rafael, meu esposo e eu rimos muito todos os dias. Brincamos, fazemos as refeições juntos, vemos televisão, nos jogamos no chão, algumas vezes parecemos três crianças aqui em casa. Acredito que a melhor terapia do nosso filho é o amor, nosso amor, de seus avós e tias, de sua pequena prima, de seus terapeutas, de seus professores e de seus amiguinhos. Rafael é muito sensível e realmente sente todo o amor que recebe e é incrível como as pessoas se apaixonam por ele! Seu sorriso e seu olhar sempre falaram e transmitiram sua natureza pura e inocente.

Minha mensagem para os pais é: acreditem em seus filhos, pois este é o primeiro passo. Ame-os incondicionalmente, pois eles precisam se sentir seguros para aprender e se desenvolver.

Rafael Heberle Dropa

Texto escrito por Anita Brito a partir de um questionário preenchido pela pessoa entrevistada. Caso deseje utilizar nossos textos, por favor citem a fonte. Obrigada.